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Vocês não sabem o prazer que é estar de volta.
Depois de atravessarmos um dos períodos mais inimaginavelmente sombrios que a humanidade já enfrentou - e ainda está enfrentando -, é indescritível poder estar de volta. Em termos de congelamento de atividades, o setor de eventos sofreu um grande baque com a paralisação do planeta, e agora, depois de quase três anos, é um alívio estarmos aqui e podermos dizer que, em todos os aspectos, sobrevivemos. Nessa escuridão, tivemos que buscar por uma luz, e me peguei olhando para trás, para observar toda a estrada percorrida, antes de poder pensar nos próximos passos.
Sempre digo que o DNA do Roadsec está na segurança, mas sua raíz é, e sempre será, a nossa comunidade. Antes do Roadsec ser Roadsec, existiu o projeto da ONG Hackers Construindo Futuros, cuja proposta era levar conhecimento técnico para áreas periféricas. Não deu certo, mas reciclei muitas das ideias para pavimentar o caminho para que o Roadsec nascesse e se jogasse no asfalto: Diversas edições foram realizadas em faculdades, apresentando a área de segurança da informação para estudantes de tecnologia e também mostrando às oportunidades de trabalho possíveis, e o programa de caravanas foi inserido no centro do evento, pois, através dele, professores podem viabilizar a vinda de alunos ao Roadsec, possibilitando o contato dos mesmos com profissionais estabelecidos na área. Abrimos espaço para que as comunidades e seus projetos tivessem o destaque merecido, com atividades que brilhavam aos olhos de todas as gerações que passavam pelos eventos, de crianças à melhor idade.
O Roadsec foi o 1º evento a levar conhecimento técnico em cyber security para muitas capitais, e dentro dele surgiu a maior competição de CTF da América Latina, o HFBR, idealizado pelo Hackaflag, que continua trazendo para sua grande final, em São Paulo, competidores de todo o país não só pelo grande prêmio, mas também dando aos jogadores a oportunidade de demonstrarem seu talento ao vivo para as grandes marcas que patrocinam e marcam presença no evento.
Imaginem a proporção do problema que estamos enfrentando hoje no cenário de recrutamento tech se não tivéssemos viajado esses milhares de quilômetros durante nossas mais de 100 edições? A gente nunca correu para onde a bola estava e sim pra onde ela ia chegar. Os resultados de contratações e crescimento de carreira de participantes e voluntários do Roadsec foi apenas uma confirmação do que já sabíamos: a tecnologia salva e têm o poder de transformar socioeconomicamente por onde passa.
Foi essa origem que guiou o Roadsec durante 2020 e 2021.
Quando nos deparamos com a pandemia, tivemos que repensar sobre o que de fato significava o contato com a comunidade, que, mesmo na adversidade, não parava de crescer. Criamos o Roadsec@Home, entregando conteúdo gratuito para nossos seguidores, e usamos essa adição de portfólio para devolver para as comunidades pelo menos um pouco do que sempre haviam nos dado. Através das transmissões, arrecadamos fundos para hackerspaces, que foram fundamentais para o combate do vírus, desenvolvendo face shields 3D para profissionais de saúde e pesquisas, como a de um respirador de custo acessível para UTIs.
Da mais inóspita das situações, vimos projetos brilhantes surgindo, um atrás do outro, e aquele nome inicial para o que hoje seria o maior festival hacker da América Latina, não me parecia mais tão inadequado para o que fazemos.
Os horizontes da tecnologia continuaram a se expandir e a nos surpreender, e as mãos e mentes por trás dela, ainda mais. E o que mais eu poderia querer do Roadsec, além de poder receber todas elas? Mas, Anderson, o Roadsec não é um festival de cultura hacker, vocês irão me perguntar. E a isso eu digo: Isso É cultura hacker!
A pergunta sempre vem, e minha resposta para o que é ser hacker vai continuar sendo a mesma: não existe. O hacking tem na tecnologia seu suporte de expressão, e, como toda cultura, está em estado de mutação permanente: É impossível fechar o significado de algo que está em constante evolução. É irrequieta, inconstante, mutável e, sem mais delongas, belíssima de se ver.
O termo hacker pode ter sido originalmente usado para apenas descrever programadores brilhantes, além da prática de compartilhamento de conhecimento, acesso a códigos fonte e meritocracia técnica criado em seu entorno, mas o Roadsec faz questão de fazer parte da mudança e abrangência dessa definição, pois toda ciência que se preze é hacking.
É mão na massa, é experimentação, é a busca para resolução de problemas reais e urgentes e pelo entendimento de como estamos moldando a tecnologia e como ela nos molda em troca. Um hacker não fica mais limitado a se acomodar em cantos escuros do mercado tech, mas está presente em todas as suas vertentes, em diferentes formas e com variadas ideologias, como o ativismo, o direito, a antropologia e a ciência, e nós vamos continuar a nos modificar e aprimorar para ser a casa de todas elas.
De um evento que começou na comunidade de segurança vieram desenvolvedores, makers e fazedores em geral, ativistas, advogados, jornalistas, cientistas, empreendedores e quem mais coubesse no balaio. O Roadsec se consolidou como um dos maiores eventos de tecnologia do continente. Um espaço único, terreno fértil para a construção de pontes que conectam aqueles que estão sempre questionando, aprendendo e criando.
Para tanto, em 2018, começamos com a integração dos eixos em nossa grade de conteúdo e, esse ano, eles já se reinventaram novamente: Quebramos Ataque e Defesa em dois, para não dar briga, adicionamos Front e Back End, as duas metades da laranja e, claro, não podíamos não manter Hardware, para nossos Macgyvers de plantão. O eixo de Cloud chega para atender a quem pisa nas nuvens e fechamos com Data Science, para quem está tentando traduzir dados em informações.
O retorno ao presencial parecia sempre distante, mas chegou e agora acontece em um galpão industrial, ao invés de em uma casa de shows, onde o entretenimento ainda é garantido, mas podemos priorizar a programação de conteúdo e sobretudo a acessibilidade ao mesmo, além de possibilitar com mais conforto as novas necessidades de distanciamento.
Dobramos nossa aposta na nossa essência, e, nessa nova casa, estamos prontos para os próximos 5 anos de crescimento. Mudamos o período do evento para nos adequarmos ao nosso cerne de ser um evento imperdível na agenda de talentos tech do Brasil, e chamar essa galera durante as provas finais e entregas de TCC era no mínimo sacanagem, né?
Compactamos a duração do Roadsec, mas o after ainda existe, podem ficar tranquilos. Agora ele é opcional, e fora do evento, mas isso não quer dizer que abandonamos as manifestações artísticas e culturais, e muito menos o clima de festa. O Roadsec agora se conecta com pessoas e organizações que realmente entendem nossa comunidade e o que ela gosta de consumir, seja a voz por trás do som, as marcas por trás do evento ou a gastronomia presente em nosso food park.
Falei e falei de São Paulo, mas sei que vão perguntar sobre o resto do Brasil, sobre o Roadsec Cidades. De avião não dá mais, mas podem ter certeza que acharemos um jeito de continuar visitando cada cantinho do nosso país. Novidades are coming, mas, enquanto isso, fiquem com o Roadsec@Home e nossos meetups.
A edição de 2022 nada mais é do que uma grande homenagem à vocês, a maior comunidade de cultura hacker da América Latina, pois, na hora do aperto, foram vocês que fizeram a diferença. Onde mais poderíamos ver, em um mesmo ambiente, novos apaixonados pela área e lendas do mercado, autoditadas e acadêmicos, palestrantes e hackerspaces dividindo palcos com DJs e artistas, recrutamento, networking, conteúdo e oficinas? Um brinde, a essa verdadeira sociedade, aberta a todos, plural e em eterna metamorfose.
ISSO É ROADSEC, $%#&@!
Quero tirar um momento para agradecer a todos por estarem aqui, em nome de toda a nossa equipe. Equipe essa que literalmente fez acontecer. Aos palestrantes, comunidades e caravanas, obrigado por serem os pilares que ajudaram a construir e sustentam ainda hoje o Roadsec. Deixo aqui também uma mensagem de imensa gratidão a todos os patrocinadores, parceiros, apoiadores, fornecedores, colegas de profissão e amigos que seguem tornando esse sonho megalomaníaco possível, e cada vez maior, a cada ano.
Reservo uma palavra especial às dezenas de Roadies voluntários que tornam essa, e todas as edições possíveis: vocês são a alma do Roadsec. Pode faltar tudo no evento, só não pode faltar vocês.
Don't stop hacking!
Anderson Ramos
Sócio-fundador e CEO da Flipside Idealizador do Roadsec (with a little help from all of you, my friends)